Cinema

Publicado: Sábado, 6 de outubro de 2012

Batman de Christopher Nolan é o cult da geração medíocre

Trilogia foi inflacionada pelo trabalho de Heath Ledger.

Batman de Christopher Nolan é o cult da geração medíocre
Batman: O Cavaleiro das Trevas teve um empurrão e tanto de Heath Ledger

Por Leandro Sarubo

Christopher Nolan é um homem de sorte. Surgiu na vida do homem-morcego após a malfadada “Era Joel Schumacher”, acertou a mão em um filme e já foi apontado por milhões de fãs como o salvador da Pátria. O Messias de Gotham City chegou, camaradas. Ele quer o dinheiro do nosso ingresso e 10% de nosso salário. Em troca, nos livra da hiperinflação de mamilos da gestão anterior. Vale a pena, pessoal!   

Nolan é talentoso? É. É um gênio? Não. Jamais será um Coppola. Jamais será Bergman. Jamais será Allen. Comparações exageradas? Ok. Jamais será um Ball. Jamais será Gondry. Fez bons filmes. Nenhum pertencente à trilogia Batman, porém. Amnésia (Memento, 2000) é sua verdadeira obra de arte. “O Cavaleiro das Trevas” é ótimo, difícil escrever o contrário. Mas não pela adaptação em si. E sim por Heath Ledger, que vivia seu auge quando interpretou Coringa. É a hora de parar com as teorias sobre a morte do ator e finalmente reconhecer o óbvio: Heath Ledger é cada minuto de “O Cavaleiro das Trevas”. O filme é inócuo sem ele. A anarquia seria alegórica.

“Batman Begins” é, talvez, o maior trunfo para delinear a inexistência de genialidade no trabalho de Nolan. Em nenhum momento é empolgante, em nenhum momento é verdadeiramente dramático, em nenhum momento sai da mesmice. Tim Burton, descartado pela Warner nos anos 1990 por querer um Batman mais “dark”, grande ironia a esta altura, fez muito mais em seus dois filmes. Porém, ele não era o último da fila. A comparação ficou restrita ao trabalho de Joel Schumacher, o flicts do mal. Aí até Fernando Meirelles poderia se sobressair.

No aguardado capítulo final da trilogia, “Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge”, nada de muito empolgante acontece. Tom Hardy fez um Bane burocrático. Não foi capaz de recriar o personagem, tornar ele atemporal, mas foi bem. A Mulher-Gato não estraga a sessão, no entanto é difícil não admitir que Michelle Pfeiffer levava mais jeito. Christian Bale é o Christian Bale de sempre. Olhar perdido, aquela voz rouca  “Antonio Teles” e a expressão de quem precisa urgentemente ir ao terapeuta. As referências geopolíticas da história? Todas muito óbvias, todas muito panfletárias. Pior que pintar de lilás Gotham City é querer torná-la Nova York para reviver, através do homem-morcego, as relações conflituosas dos Estados Unidos nos últimos anos.

Maturidade é bom. Esquecer o universo fantástico, quando falamos de homens fantasiados, pode ser perigoso. A ousadia em replicar a profundidade dos grandes dramas em um personagem como Batman merece registro. Mas é preciso assumir: ela só funcionou em uma ocasião, quando houve um antagonista acima da média. Assim, tornar a trilogia de Christopher Nolan um capítulo decisivo do cinema é menosprezar o cinema. É equiparar o proclamado "cult" de uma geração de filmes medíocres a Coppola. A Bergman. A Allen. A Ball. A Gondry. Comparações que nunca poderão acontecer. 

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